domingo, 13 de março de 2011

Alef א

Alef começou a descobrir que uma mulher quer, pensa e sente muito mais que sua vã filosofia sobre ela. Ele começou a perceber que existe o jogo da conquista, e a Conquista da Vida ou o Viver a Conquista...

Alef começa perceber que é possível e necessário viver com arte a vida e viver a arte da vida. Que ele deve exaurir sua energia interna em suas fantasias, suas artes, seus movimentos e suas realizações. Ele deve viver como se pintasse um quadro, deve se relacionar como se aprendesse uma música, deve aprender um instrumento como se estivesse aprendendo a nadar, e deve aprender a nadar como se estivesse amando a uma linda mulher.

Ainda Alef sente que o acúmulo de beleza de sua parte a princípio seria proveitoso, com várias mulheres o desejando (claro, como objeto ou como principe encantado, mas não como ele Alef) e todos se tornando mais solícitos (ou nem tanto). Mas que, com o passar do tempo, sua vida se tornaria muito superficial, pois lidaria com certeza com muitas mulheres superficiais, e com relações e tratamentos superficiais, e se um dia viesse perder tal formosura, todas as superficialidades (est-ética empobrecida) se dissipariam como a erva da manhã ante o sol que nasce.

Alef aprende, porém, que o cultivo da arte de sua ética, e não apenas da est-ética empobrecida, cultivará amizades e relações mais profundas. Aprende que o trabalho da oratória é mais importante que o trabalho exaustivo dos músculos. Aprende que o aperfeiçoamento do ouvido musical e da habilidade nos instrumentos musicais é deveras mais importante que o aperfeiçoamento esteticista da cutis ou do cabelo. Aprende que antes de construir uma embalagem vistosa, deve-se moldar um bom conteúdo.

Alef deixa de se focar nas cervejas com embalagens vistosas e de péssimo conteúdo, e passa a olhar os vinhos, aqueles melhores e mais antigos, possuidores de pálidas embalagens mas precioso conteúdo. Ele passa a ver que os degustadores dos melhores vinhos são poucos, e quanto melhor o vinho, mais apurado deve ser o paladar, e menor será o número de pessoas possuidoras do paladar refinado.

Alef respira fundo e se felicita pela nova manhã que se aproxima, repleta de possibilidades! Como ele esperava por esse dia! Há muito ele se via refém do cotidiano, e triste relembrava dos áureos tempos onde ele respirava a liberdade a cada manhã. Agora essa manhã chegou, e mais forte!

Fim de uma era, a partida de um ente, a redescoberta da arte, a consciência de que seu corpo é multiplo e dinâmico, a compreensão de sua engrenagem de sua psicossomática, e a vontade de viajar e mudar lubrificam as correntes da reflexão e da ação, lançam-o no emocionante terreno do desafio!

Alef está aí. Quer desenhar, quer pintar, quer se inspirar, quer tocar violão-violino-pandeiro, quer cantar, quer dar aula de música, quer encenar, quer dançar contemporaneamente e cubanamente, quer viajar a buenosaires ou a montevideu, quer viajar à europa ou eua, quer fazer mestrado, quer falar e pensar e sonhar em francês e español, quer desenvolver sua poesia e seus contos, quer ler e reler, quer escrever artigos e apresentá-los, que redescobrir a pedagogia da vida e aplicá-la, quer resolver as burocracias da vida burocrática, quer levar a fé onde há dúvida e ser para D'us um instrumento de paz, quer realizar rodas de reflexões, confortar e ajudar a quem precisa, quer se banhar em cachoeiras, construir sua casa, amar familiares e fortalecer amizades, quer amar o próximo como a si mesmo, quer amar...


*א*

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